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Pseudo-Enfermeira

20 anos. Estudante de enfermagem com os nervos em franja.

Pseudo-Enfermeira

Vou ser enfermeira, porquê?

with love, nurse, em 15.09.17

No presente, sou aluna de enfermagem de 4º ano. E já vi tanto. Senti tanto.

Não consigo descrever a profunda tristeza que sinto ao ler comentários da opinião pública. Da falta de informação, de empatia, reconhecimento, valorização. Magoa, magoa muito.

Na minha curta experiência como quase-enfermeira já vi um pouco de tudo. Não sou forte, nem rija como deveria de ser, muitas vezes tenho vontade de chorar e muitas vezes vou para a casa de banho e choro até passar-me a dor na alma.

Tinha 19 anos quando ajudei o meu primeiro doente a morrer, quando agarrei-lhe na mão e ouvi-lhe o último suspiro, chorei no caminho para casa. Com a mesma idade, cuidei de uma pessoa já morta, fiquei tão impressionada que não sabia se tinha vontade de chorar ou vomitar, fiz os dois.

Com 21 anos vi pela primeira vez um recém-nascido entre a vida e a morte. Estava no bloco operatório e vi um bebé a nascer, um momento que deveria de ser algo bonito e especial não o foi, o bebé saíu negro como a noite devido à falta de oxigénio e vi-me confrontada em controlar as lágrimas quando estava rodeada de médicos e enfermeiros. Vi um bebé a lutar pela vida, fiquei tão perturbada que disse nunca mais. Esse nunca mais já lá vai algum tempo e continuo aqui, não sei porquê, se é porque estou destinada a fazer isto ou se não tenho coragem de desistir.

Por vezes dúvido da minha escolha, dúvido se fiz bem em optar por esta profissão, muitas vezes acho que fiz a escolha certa, outras tantas pergunto-me o quê que tinha na cabeça. Tento sempre dar o meu melhor, ser feliz no que faço, mostrar aos meus doentes que tenho gosto de estar ali com eles, mas depois vem tudo ao de cima, as faltas de condições, o desrespeito, sobrecarga, esgotamentos, falta de valorização. Estamos estagnados há uma década. Somos os únicos licenciados que recebem 1000€ quanto que todos os outros é 1400€ porquê? Somos menos que alguém? Não somos tão importantes? Por mais que tente, não chego a conclusão alguma.

Gastamos milhares de euros dos nossos bolsos em formações, mestrados, doutoramentos, com o fim de sermos capazes de prestar cuidados cada vez melhores aos nossos doentes e somos criticados por querermos um ordenado melhor. Porquê?

Irmã e cunhado enfermeiros, namorado enfermeiro, eu a uma curva de ser enfermeira e vejo as nossas vidas mal-paradas.

Porquê que não nos apoiam? Não nos compreendem? Porquê? Não queremos ser mais do que ninguém, não queremos receber mais do que os médicos, não queremos uma guerra. Queremos os nossos direitos que nos foram tirados, será que é pedir muito?

Damos tanto e recebemos tão pouco em troca.

Porquê?

Vou ser enfermeira, porquê? Com o decorrer desta semana, já não sei.

Mudar o mundo.

with love, nurse, em 01.06.16

Eu não consigo, nem vou mudar o mundo, mas todos os dias mudo o mundo das pessoas de quem toco, nas mais diversas formas. Nunca é um privilégio para o doente ser cuidado por nós enfermeiros, é sempre um privilégio nosso poder cuidar e deixarem-nos cuidar de pessoas tão fragilizadas física e psicologicamente.

Todos os dias apaixono-me mais um bocadinho pela minha profissão.

Enfermagem.

with love, nurse, em 10.01.16

Nunca pensei que esta minha jornada enquanto estudante de enfermagem fosse ser fácil, mas também nunca pensei que fosse ser tão difícil.

Há momentos que custa, custa muito quando percebo que não consigo demonstrar aquilo que sei, custa muito quando os resultados não fazem jus ao quanto me esforcei, custa muito quando pondero, nem que seja por um segundo, em desistir.

Não gosto de ter dúvidas, não gosto de por vezes sentir que posso estar a desperdiçar anos da minha vida, não gosto de sentir que não sou boa o suficiente, e quando estes momentos assolapam-me eu simplesmente baixo os braços e deixo-me cair nesta onda de tristeza, medo, dúvida e insegurança, deixo-me cair e pergunto-me uma e outra vez se este é o meu caminho e estou a fazê-lo de forma certa.

Não sei o que fazer, não sei o que sentir. Como é que posso cuidar de outras pessoas se às vezes nem consigo cuidar de mim?

A saga do recurso continua.

with love, nurse, em 22.06.15

Ir a recurso é tão stressante. Fazer frequências também é, mas vou para lá a pensar "ok, se correr mal tenho o recurso", para o recurso só penso "ok, se isto correr mal já não tens nada que te possa salvar".

Recuso-me perder à cadeira toda por causa do módulo de pedagogia, que não interessa nem ao menino jesus e que não me irá ajudar em nada a ser uma boa enfermeira.

O 1º ano nem parece enfermagem. Enfim.

hey stranger

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